Petrópolis registrou 13 casos da doença em 2024
Larissa Martins
O verão está cada vez mais próximo (21 de dezembro 20 de março) e com ele vem o período chuvoso, exigindo atenção redobrada aos cuidados com as inundações registradas em Petrópolis neste período.
De acordo com o Ministério da Saúde, as enchentes estão frequentemente associadas aos casos de leptospirose devido à contaminação da água por urina de animais infectados, como os ratos. Durante esses eventos, a água suja pode misturar-se com águas pluviais e de esgoto, criando um ambiente propício para a sobrevivência da bactéria Leptospira.
O aumento do contato humano-animal, a exposição direta à água contaminada e as condições precárias de higiene durante e após as enchentes contribuem para a disseminação da doença.
De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) foram registrados, em 2023, 229 casos confirmados de leptospirose no estado do Rio de Janeiro, sendo 8 deles em Petrópolis. Em 2024, até o momento, foram 238 registros da doença no estado, sendo 13 deles em Petrópolis. Os dados foram obtidos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), em 12/12/24, e estão sujeitos à revisão.
A doença
A leptospirose é uma doença infecciosa febril aguda. O período de incubação, ou seja, intervalo de tempo entre a transmissão da infecção até o início das manifestações dos sinais e sintomas, pode variar de 1 a 30 dias e normalmente ocorre entre 7 a 14 dias após a exposição a situações de risco.
A doença apresenta risco de letalidade, que pode chegar a 40% nos casos mais graves. Em aproximadamente 15% dos pacientes com leptospirose, ocorre a evolução para manifestações clínicas graves, que normalmente iniciam-se após a primeira semana de doença.
Sintomas
Essas manifestações podem variam desde formas assintomáticas e subclínicas até quadros graves, associados a manifestações fulminantes. São divididas em duas fases, a precoce e a tardia, podendo provocar febre, falta de apetite, dor muscular, dor de cabeça, náuseas e vômitos.
Podem ocorrer também diarreia, dor nas articulações, vermelhidão ou hemorragia conjuntival, fotofobia, dor ocular, tosse; mais raramente podem manifestar exantema, aumento do fígado e/ou baço, aumento de linfonodos e sufusão conjuntival.
Nas formas graves, a manifestação clássica da leptospirose é a síndrome de Weil, caracterizada pela tríade de icterícia (tonalidade alaranjada muito intensa - icterícia rubínica), insuficiência renal e hemorragia, mais comumente pulmonar.
Diagnóstico
O diagnóstico específico é feito a partir da coleta de sangue no qual será verificado se há presença de anticorpos para leptospirose (exame indireto) ou a presença da bactéria (exame direto). O método laboratorial de escolha depende da fase evolutiva em que se encontra o paciente.
Fase precoce - Primeira semana de doença
Exame direto
Cultura
Detecção do DNA pela reação em
cadeia da polimerase (PCR)
Fase tardia
Cultura
ELISA-IgM
Microaglutinação (MAT)
Os exames acima devem ser realizados pelos Lacens, pertencentes à Rede Nacional de Laboratórios de Saúde Pública.
Exames inespecíficos
Hemograma
Bioquímica (ureia, creatinina, bilirrubina total e frações, TGO, TGP, gama-GT, fosfatase alcalina e CPK, Na+ e K+)
Radiografia de tórax
Eletrocardiograma (ECG)
Gasometria arterial
Tratamento
O tratamento com o uso de antibióticos deve ser iniciado no momento da suspeita, afirma a médica infectologista da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial CBDL, Fernanda Rick.
“Por ser uma doença febril, pode ser confundida com dengue, zika ou chikunguya, dependendo do estágio. Por isso, o paciente que estiver com mal-estar e febre alta deve procurar o serviço médico, independente de ser uma suspeita de leptospirose ou outras doenças graves do verão. Quando chegar na unidade de saúde, é importante informar de teve contato com água de enchente ou alagamento. O tratamento pode ser feito com antibióticos, dependendo da fase. Se a doença estiver no início, podem ser utilizados medicamentos orais, já em casos mais graves se faz necessário é internação e uso de remédios endovenosos, além de suporte de monitoramento e hidratação. Todo o tratamento está disponível no Sistema Único de Saude (SUS). Não existe nenhuma vacina, por isso é necessário tomar bastante cuidado nesse período de verão”, explica a especialista.
Leptospirose em animais
A leptospirose pode atingir também os animais, por isso o Conselho Regional de Medicina Veterinaria do Estado do Rio de Janeiro (CRMV-RJ) recomenda que os cães sejam imunizados com a vacina V8, que apresenta dois sorotipos contra a doença. Já na vacina V10 são quatro sorotipos, ou seja, protege contra quatro tipos de bactérias da leptospirose. É necessário fazer um reforço a cada seis meses.
Prevenção
De acordo com a SES-RJ, para se proteger da doença é necessário evitar o contato com água ou lama de enchentes ou esgotos. Impedir que crianças nadem ou brinquem nesses locais, que podem estar contaminados pela urina dos ratos infectados.
- No caso de contato com água de enchentes ou esgotos é necessário tomar banho com água limpa e de preferência usar sabonete. Se houver algum ferimento, é preciso lavar bem o local com água potável e sabão ou sabonete.
- Após a água baixar, será necessário retirar a lama e desinfetar o local se protegendo com botas e luvas de borracha para evitar o contato da pele com água e lama contaminadas. Sacos plásticos duplos também podem ser amarrados nas mãos e nos pés.
- Para desinfectar a área atingida pela lama ou água da enchente: lavar pisos, paredes e bancadas com água sanitária, na proporção de 2 xícaras das de chá (400ml) desse produto para um balde de 20 litros de água, deixando agir por 15 minutos.
- Ter cuidado com os alimentos que tiveram contato com água de enchente. Alguns devem ser jogados fora, outros precisam de tratamento especial nestas situações.
- Manter os terrenos baldios e as margens de córregos limpos e capinados. Evitar entulhos e acúmulo de objetos nos quintais e nas telhas.
- Limpar a caixa d’água regularmente.
Ações
A SES-RJ destacou suas ações preventivas promovidas ao longo do ano. São elas:
Análise do cenário epidemiológico da leptospirose no estado, monitoramento semanal, do registro de notificação de casos suspeitos da doença no estado; Realização de assessoria técnica, para diagnóstico, manejo e tratamento dos pacientes suspeitos; Apoio na investigação dos óbitos suspeitos de leptospirose; Capacitações para manejo de pacientes de leptospirose para médicos e enfermeiros de todos os municípios a partir da solicitação dos municípios; Participação das áreas técnicas da Subsecretaria de Vigilância e Atenção Primária à Saúde em reuniões regionais, de acordo com o cenário epidemiológico; Alertar os profissionais de saúde sobre a possibilidade de ocorrência da doença na localidade de forma a aumentar a capacidade diagnóstica; Abertura de processo para aquisição de medicamento para tratamento dos casos suspeitos de leptospirose; Elaboração e divulgação de alertas no período que antecede as chuvas fortes do verão com recomendações para a vigilância e controle da leptospirose e Intensificação das ações de comunicação divulgando informações sobre o risco de contrair leptospirose para a população exposta às enchentes para a prevenção e controle da doença.
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