“Existem diferentes tipos de violência em um relacionamento abusivo, e, ao identificar qualquer um deles, a mulher deve buscar ajuda”, explica psicóloga
Mariana Machado estagiária
Violência contra a mulher é qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado, segundo a Convenção de Belém do Pará (Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher, da Organização dos Estados Americanos em 1994).
Em Petrópolis, foram registrados 152 casos de violência contra mulher até outubro deste ano, um aumento de quase 40% quando comparado com o mesmo período do ano anterior. Além disso, 2024 tem, entre janeiro e outubro, 21 casos de violação de domicílio a mais que o ano de 2023 inteiro.
Entre janeiro e outubro de 2023, o município registrou 45 casos de difamação, enquanto 2024 já conta com 58. Dentre os índices que aumentaram, há também constrangimento ilegal (+3) e tentativa de feminicídio (+3). Os dois anos registraram, neste mesmo período, um feminicídio, e cinco tentativas de homicídio. Entre os delitos que diminuíram do ano passado para este, estão os assédios sexuais, com 11 no ano passado, e 6 neste. E homicídio doloso, no qual houve 3 casos até outubro de 2023, e 1 em 2024.
Um caso recente de Petrópolis ocorreu ainda nesta semana, na quarta-feira (04), quando um homem de 35 anos foi preso em flagrante, por agredir violentamente sua companheira de 31 anos, no Retiro. O crime ocorreu na presença dos 3 filhos do casal, um deles diagnosticado com autismo.
Em conversa com o Diário sobre o tema, a psicóloga Luiza Fragelli explica alguns dos fatores psicológicos que levam uma mulher a ficar num relacionamento abusivo. “A permanência é influenciada por uma combinação de fatores psicológicos, sociais, culturais e econômicos. A dependência emocional e financeira são os elementos mais frequentes que mantêm mulheres em situações abusivas. Além disso, o medo em sofrer violência, a baixa autoestima decorrente dessa relação, o sentimento de culpa frequentemente alimentado por manipulações do parceiro e pela estrutura patriarcal da sociedade e a vergonha de buscar ajuda, são fatores que também contribuem para que uma mulher continue nesse tipo de relacionamento”.
Questionada sobre o que pode ser feito para ajudar mulheres em situações como essa, a profissional explica que é “fundamental que ela reconheça a natureza da relação que está vivenciando. Muitas vezes, devido a uma estrutura social machista e às manipulações psicológicas, a mulher não consegue identificar os sinais de abuso ou os normaliza”.
“O apoio psicológico é crucial nesse processo, vindo tanto da rede de apoio (amigos e familiares) quanto de profissionais da psicologia, que podem fortalecer emocionalmente e psicologicamente a mulher, ajudando-a a encontrar a força necessária para sair da relação”, completa.
A mulher deve procurar ajuda ao identificar qualquer tipo de relacionamento abusivo. A psicóloga explica os tipos de violência: A violência física refere-se a agressões como socos, chutes e outras formas de danos físicos; A violência psicológica envolve manipulações emocionais, humilhações, críticas constantes e o isolamento social da mulher; A violência sexual, ao contrário do que muitos pensam, pode ocorrer entre parceiros românticos e inclui qualquer ato sexual sem consentimento; A violência patrimonial diz respeito ao controle e à destruição dos bens materiais da mulher, incluindo documentos pessoais; Já a violência moral se caracteriza pela difamação, calúnia ou qualquer ato que prejudique a reputação da mulher.
A psicóloga informa que, em Petrópolis, há o CRAM (Centro de Referência em Atendimento à Mulher), localizado no Centro, na Rua Santos Dumont, n° 100, que oferece um primeiro acolhimento à mulher em situação de violência, além de orientações e atendimentos nas áreas jurídica, psicológica e social. Luiza Fragelli reforça que “não é porque não há agressão física que outras formas de violência não possam estar presentes na relação”.
A psicóloga completa, explicando que o ciclo da violência é caracterizado por três fases: a fase de tensão, onde o comportamento do agressor se torna instável e as discussões aumentam; a fase de violência, onde ocorre qualquer uma das violências citadas; e, por fim, a fase de lua de mel, em que o agressor demonstra arrependimento, culpa, passa a ser mais carinhoso e pode até presentear a vítima. “Se você reconhece esses sinais em seu relacionamento, busque ajuda junto ao CRAM. Para denunciar violência contra a mulher, disque 180” alerta a profissional.
A Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro reforça que o combate à violência contra a mulher é uma de suas prioridades. “A instituição conta com 14 Delegacias de Atendimento à Mulher (Deam) em todo o estado, que oferecem o acolhimento necessário às vítimas em momento de vulnerabilidade. Os crimes desta natureza também podem ser registrados nas delegacias distritais”, acrescentam, pois Petrópolis não tem uma Delegacia de Atendimento à Mulher.
Após o crime cometido nesta semana, a 105ª DP publicou nas redes sociais: “Você, mulher, vítima de violência doméstica, procure pela sua 105ªDP-Petrópolis. Denuncie! Um alerta a marginal da lei que agride mulher: A lei Maria da Penha foi alterada e tornou-se mais eficaz. Agredir fisicamente mulheres é crime INAFIANÇÁVEL. Tenha certeza: a 105ª DP te acha!".
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