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domingo, 17 de março de 2024


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VIVA PETRÓPOLIS!

VIVA PETRÓPOLIS!

Joaquim Eloy dos Santos Historiador e Acadêmico das Academias de Letras Petropolitana e Fluminense

O jovem imperador, de apenas 18 anos, forrado de boa cultura e preparado para o múnus político, vinha, há algum tempo, lembrando e relembrando uma conversa que tivera, ainda menino, com seu pai, o imperador D. Pedro I, que retornara a Portugal, assumira o trono de sua pátria, sob a denominação de rei, D. Pedro IV, e - pai e filho - nunca mais se encontraram.

O jovem soberano do grande império do Brasil conversara, ainda menino, com o pai sobre a propriedade situada na serra da Estrela, uma fazenda de nome Córrego Seco, território de passagem das tropas que traziam o rico produto da exploração aurífera para o Rio de Janeiro. A estrada projetada por Bernardo Soares de Proença, conhecida como o caminho do ouro, era o elo da capital com o interior e, principalmente com as minas gerais produtoras dos mais ambicionados tesouros daqueles idos: o ouro e as pedras preciosas.

Ficara, na cabeça do menino, o teor da ideia daquela conversa com o 1º imperador, que consistia no aproveitamento do vasto território do Córrego Seco para a edificação de um palácio de verão, a ser utilizado pela família imperial nos períodos dos rigorosos verões sob os quais penava a população carioca.

Imaginemos o encontro do imperador D. Pedro II com o mordomo da Casa Imperial, conselheiro Paulo Barbosa da Silva e o major de engenheiros Júlio Koeler em um dia do mês de março de 1843. O imperador e o conselheiro aguardavam a chegada do major de engenheiros:

- Por favor, brigadeiro, diga se o convidado chegará na hora marcada? O senhor a ele confirmou o tema a ser abordado em nossa reunião? O tempo é ouro, não podemos desperdiçá-lo! o imperador mostra-se ansioso, crivando seu conselheiro Paulo Barbosa da Silva com nervosas expectativas.

- Majestade, ele não atrasará... Não é do feitio do major Koeler o descumprimento de horários... O senhor bem o conhece sereno e calmo responde o brigadeiro mordomo da Casa Imperial.

- Sim. Sim balbucia o imperador, enquanto caminha pelo salão. Sua inquietude procede a partir da ânsia do jovem monarca pela concretização do sonho do pai e dele próprio, que desenha em sua visionária imaginação, a edificação de um recanto de paz e sossego, aproveitando a propriedade imperial localizada no alto da Serra da Estrela.

A porta do gabinete é aberta, por ela avançando o chefe do cerimonial palaciano:

- Majestade, o major Júlio Frederico Koeler solicita licença para ser recebido!

D. Pedro II ajeita-se na poltrona e autoriza o arauto a introduzir o visitante no salão do Palácio da Quinta da Boa Vista.

Cumprimentos, sentam-se confortavelmente os três personagens e, pelo brigadeiro Paulo Barbosa são declinados os objetivos do encontro. Nota-se que o Imperador, ansioso, inquieto, deseja falar, o que, afinal, acontece. Diz:

- Major Júlio Koeler, conforme já deve ser do seu conhecimento, encarreguei meu conselheiro, brigadeiro Paulo Barbosa, para deflagar todas as providências necessárias no sentido do aproveitamento de minha fazenda a do Córrego Seco dotando-o do foro de povoação, nela construindo uma casa de campo, para meu uso nas épocas das elevadas temperaturas aqui da Corte. O senhor já conhece o texto do projeto?

- Sim. O sr. Brigadeiro já adiantou alguns pormenores...

- E o senhor poderá encarregar-se da missão? e D. Pedro II, sob visível entusiasmo, toma a palavra, continuando a conversa Por favor, sr. engenheiro, escute os pontos principais que o brigadeiro e eu já adiantamos e tomamos em apontamentos...

- Estou atento, majestade!]

- Excelente! Então, ouça: entrego ao senhor, major Koeler, a minha fazenda no alto da serra por arrendamento para que se desenvolva, enquanto cuida da abertura de caminhos que possam levar progresso à toda região, ampliando os acessos aos confins das minas gerais. Correto?

- Sim, majestade, sei do elevado interesse do Império na exploração das fazendas localizadas na Estrela, em proveito da expansão econômica, ensejando a criação de novas vilas e povoados...

- Tem razão, Major Koeler.  O brigadeiro Paulo Barbosa, comigo, preparou documento onde determino fundar, nas terras da fazenda, um povoado com todas as suas particularidades, prevendo uma ocupação definitiva de famílias, dividido o terreno em prazos de terras, a serem aforados a interessados. Também, a edificação, nas terras centrais e nobres da dita povoação, de uma igreja católica, sob a invocação do padroeiro do Império, São Pedro de Alcântara e a construção de uma casa para mim, que servirá de abrigo de verão para a minha família.

- V. Majestade esteja certo de que seu desejo será atendido. A sua fazenda do Córrego Seco, de instalações rústicas, de belo cenário natural, clima ameno... um pouco frio nas fases invernais, ocupará toda a minha atenção.  Procurarei corresponder às boas expectativas e nos próximos dias estarei ocupado com uma planta detalhando todo o processo.

- Sua capacidade profissional é do conhecimento de todo o Império, sua energia pessoal é respeitada. A empreitada será coroada de pleno êxito! manifesta otimismo e crença o conselheiro Paulo Barbosa, ao fim da reunião.

Novamente convocados ao palácio imperial, Koeler e Paulo Barbosa testemunham a assinatura do imperador no decreto imperial nº 155, na tarde de 16 de março de 1843.

- Sugiro que o povoado a ser criado, receba a denominação de Petrópolis, a cidade de Pedro sentencia Paulo Barbosa, sob aprovação unânime.

Servido um licor de frutos silvestres, um brinde entre sorrisos e vivas, está assentado o alicerce do povoado. Só falta o trabalho ativo e dinâmico e a ocupação humana dos prazos. A vida segue...

Mas isto é outra história.

Viva Petrópolis!

Viva, Petrópolis.

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